estrema
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A estrema: revista interdisciplinar de humanidades, uma publicação em linha do Centro de Estudos Comparatistas (CEC) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), está com uma chamada aberta para artigos e recensões para a 1.ª edição da sua Série II ― Inverno 2021/22. A estrema é uma revista digital e de livre acesso que visa proporcionar uma plataforma de publicação, divulgação e debate académico a todos os alunos do ensino superior nacional e estrangeiro, bem como de outros autores interessados, cujos trabalhos serão avaliados num processo de double-blind peer review. A interdisciplinaridade coloca a estrema nas intersecções e limiares das humanidades, onde novas fronteiras científicas emergem através da metodologia comparatista. Assim, serão considerados trabalhos que tratem de objectos culturais ou artísticos que estejam em diálogo com as humanidades.
Em ano de celebração, a equipa editorial propõe que, pela primeira vez, os números sejam temáticos, enquadrando-os no binómio luz-sombra. O primeiro, que sairá no Inverno de 2021/22, acolherá contributos que abordem de forma crítica, inovadora e interdisciplinar o tópico da “sombra”. Com os mesmos critérios, será lançada uma nova chamada para o segundo número, que sairá no Verão de 2022, elaborado em torno do tópico da “luz”. A equipa editorial da estrema procura artigos que, de forma criativa, sob o prisma do método comparatista, reflictam sobre o elemento da sombra, como parte da dicotomia aqui apresentada, em todas as dimensões do arquétipo. Propomos aqui oferecer só algumas das possíveis linhas temático-simbólicas que o tópico pode sugerir, a fim de promover outras e múltiplas reflexões em chave diacrónica e comparatista.
Elogios da Sombra (Série II – Ano 1 – Nr.º 1)
Ao leme do seu barco solar, Rá rompe pelo submundo do demónio Apófis – a grande serpente cujo corpo evoca as sombras do vazio – perturbando a unidade reinante. Dos fragmentos do embate que se segue surgem as primeiras entidades dicotómicas: luz e sombra, terra e água, mulher e homem. Encolerizado, Apófis trava uma épica batalha com o deus-sol pela supremacia da escuridão e contra a força fragmentária da luz. O anti-deus resiste para ser eternamente derrotado numa batalha constante entre as sombras e a luz, símbolos do ciclo do dia e da noite.*
Assim como neste mito egípcio, a luz e a sombra permeiam as experiências culturais e artísticas mais icónicas da História, do Gilgamesh à Teogonia de Hesíodo, do Génesis ao Apocalipse bíblicos, de Platão a Poe, de Jung aos trabalhos gráficos de Lourdes Castro, do Expressionismo alemão à estética das sombras do cinema japonês ou do Wayang javanês. Sombra e luz, escuridão e claridade, noite e dia, morte e vida caminham de mãos dadas, ora complementando-se, ora em conflito, representando a mais fecunda dicotomia mitológica, literária e cultural. A importância desta oposição como fonte inspiradora, artística, espiritual e científica presta-se a um encontro entre contributos de diferentes disciplinas e metodologias de investigação: o que uma esconde, a outra revela, o que uma apaga, a outra começa, o que uma esquece, a outra relembra, num jogo mesológico sedutor. Como tal, as artes e a cultura nutrem-se do mito, que na dialética entre trevas e luz encontra a sua origem primitiva, o seu essencial objetivo: narrar. Inúmeras são as reflexões e representações do tópico da sombra ao longo dos milénios passados, fonte inexaurível que esta chamada vem evocar.
*Vagamente adaptado a partir da entrada de Joshua J. Mark na World History Encyclopedia (consultado pela última vez a 10 de Julho de 2021).
Prazos para o envio dos artigos: 31 de Outubro, 2021
Notificação da recepção de artigos: 15 de Janeiro, 2022
Línguas de publicação: português, castelhano, italiano, francês e inglês.
Endereço para contactos e envio de propostas: estrema.cec@gmail.com